Na Páscoa, apesar do caráter religioso da data, é à mesa que a principal iguaria é aguardada: os ovos de chocolate. Em variadas texturas e sabores – dos básicos aos mais gourmetizados –, eles não podem faltar na celebração. E não são só as crianças que esperam ansiosas, muitos adultos não resistem à tentação e até exageram no consumo.
O chocolate é um dos alimentos mais apreciados no mundo. Produzido a partir do cacau, um fruto que nada lembra o doce, nasce da árvore Theobroma cacao, cujo significado é “alimento dos deuses” e, talvez, aí esteja um dos segredos. Mas muitos dizem que é o alimento da felicidade. Se as coisas não andam bem, basta comer um pedaço de chocolate que tudo melhora. E há explicações científicas para isso.
Benefícios do chocolate para o corpo
Essa guloseima é rica em vitaminas e nutrientes que apresentam efeitos antioxidantes, anti-hipertensivos, anti-inflamatórios e antitrombóticos. Porém, estes benefícios para saúde sempre dependerão da concentração de cacau. Quanto mais escuro e amargo, mais compostos benéficos.
E é a ação deles que pode provocar a tal felicidade. Destaque para a teobromina, um composto quimicamente semelhante à cafeína, que tem um efeito estimulante e a feniletilamina (também conhecida como “hormônio da paixão”), responsável por despertar a sensação de prazer.
Um consumo equilibrado de chocolate pode contribuir para elevar a serotonina (hormônio da felicidade) e, consequentemente, a sensação de bem-estar no organismo, reduzindo a ansiedade, o estresse e contribuindo para a saúde cerebral. O ideal é uma porção diária de cerca de 30 a 40 gramas, de preferência com alto teor de cacau, a partir de 70%.
Consumindo chocolate da maneira correta
Para aproveitar todos os benefícios do chocolate, o Prof. Dr. Durval Ribas Filho, nutrólogo, endocrinologista Fellow da Obesity Society FTOS – USA e Presidente da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia), lista algumas dicas de como consumi-lo corretamente. Confira!
1. Opções de chocolate mais saudáveis
O chocolate ser saudável ou não sempre dependerá da concentração de cacau. Quanto maior, a partir de 70%, e mais escuro e amargo, melhor para a saúde. Os mais consumidos, como o ao leite, possuem baixa concentração de cacau, perdendo os principais benefícios do chocolate. Porque para se obter um sabor menos amargo, a maioria dos chocolates contém um alto teor de açúcar e gorduras, o que aumenta seu índice calórico e se perde parte de suas propriedades, favoráveis para a saúde.
2. Concentração do cacau faz diferença para saúde
No chocolate amargo, a concentração de cacau é entre 60% e 100%; o meio amargo contém de 40% a 55%. Os amargos, a partir de 70%, são fonte de antioxidantes e fibras, levam pouco ou nenhum leite, o que reduz a chance de se ter gordura saturada, e são elaborados com menos açúcar, gordura e sódio. Os dois tipos são ricos em magnésio, ferro e selênio e aliados da circulação sanguínea, do bom colesterol (HDL) e podem contribuir na redução do apetite e no aumento do metabolismo.
A opção ao leite, por outro lado, está entre os preferidos por sua cremosidade e por ser mais doce. Mas, por conter menos cacau, traz menos benéficos à saúde. O chocolate branco é produzido a partir da manteiga do cacau. É mais calórico e seus benefícios estão na característica de não possuir cafeína, em sua composição, e oferecer mais energia para o corpo.
A opção ruby, apesar da cor, não leva corantes. É produzido a partir de um tipo de cacau, cuja fruta possui sementes na cor rosada, resultado do ambiente do cultivo que dão esta característica peculiar à matéria-prima. Menos doce, possui 47,3% de cacau – semelhante a um chocolate meio amargo – e sua quantidade de gordura é de cerca de 36%, próximo ao chocolate branco. É rico em ácido cítrico, antioxidantes e fonte de vitaminas A e B.
3. Substituições para diabéticos, intolerantes e veganos
Para as pessoas com restrições alimentares, como os diabéticos, intolerantes ao glúten e à lactose ou veganos, há chocolates à base de soja – produzidos com extrato de soja 100% vegetal e sem adição de lactose e pouco sódio.
Outra opção é a alfarroba, fruto semelhante a uma vagem de feijão, de onde se extrai a polpa, que é torrada e moída para obter o pó utilizado em substituição ao cacau. É saudável e menos calórica, tem cor marrom escuro e sabor adocicado.
Além disso, não possui estimulantes, como a cafeína e teobromina, e tem um baixo índice glicêmico. Tem em torno de 0,7% de gordura e açúcares naturais como sacarose, glucose e frutose e é isenta de lactose e glúten. O cacau, por outro lado, possui cerca de 23% de gordura e 5% de açúcar.
4. Não se prive do chocolate
A privação, não apenas do chocolate, mas de vários alimentos, pode gerar uma compulsão posterior por influenciar numa descompensação psicológica, em especial nos diabéticos, pelo risco de afetar o controle da doença. Não precisa se privar do prazer de consumir chocolate, desde que se tenha uma dieta equilibrada e a glicemia sob controle.
5. Prejuízos do consumo exagerado de chocolate
A ingestão de muita gordura, açúcar e leite – base da maioria dos chocolates – traz prejuízo, principalmente, para o funcionamento adequado do fígado e pode causar sintomas como náuseas, refluxo, diarreia, dor de cabeça e no estômago e mal-estar por alguns dias. Estes distúrbios digestivos são as principais queixas quando se exagera no chocolate. É preciso lembrar que a vida continua no pós-Páscoa.
6. O que fazer após o consumo exagerado de chocolate
Após o consumo exagerado de chocolate, é recomendado ter uma alimentação mais leve, com muitas frutas, verduras e legumes, evitando carnes vermelhas e reduzindo o consumo de pães, massas, biscoitos – fontes de carboidrato simples –, optando por carboidratos complexos, como a batata-doce. A boa hidratação também é fundamental.
7. O chocolate pode viciar
O vício é um risco quando se consome qualquer alimento de forma exagerada – inclusive o chocolate –, mesmo sem ter fome e sem a necessidade de ingeri-lo, chegando ao ponto de comer escondido para saciar o desejo e ter a sensação de bem-estar, gerado pelo aumento na liberação de serotonina no cérebro. Este descontrole pode causar uma dependência e um quadro de compulsão alimentar, um transtorno ligado à saúde mental, desencadeando gatilhos emocionais como tristeza, medo, ansiedade e alegria.
8. Comendo chocolate sem ultrapassar dos limites
Para consumir o chocolate sem ultrapassar os limites, tente não se guiar pelo impulso de consumir em excesso, mesmo em uma comemoração como a Páscoa. Além disso, fique atento aos rótulos: ingredientes e quantidades. Opte pelo menor teor de açúcar, gordura e carboidrato e maior teor de cacau, mesmo nas versões diet e light. Se ganhar muito chocolate, consuma algumas porções e congele as que sobrarem. Assim sua Páscoa durará mais tempo.
O TEMPO