Após enfrentar a maior seca dos últimos 121 anos, o Rio Negro, em Manaus, volta a subir, trazendo consigo não apenas águas renovadoras, mas também um sopro de esperança para setores econômicos afetados. O período de estiagem, que isolou comunidades e fechou escolas na área rural da capital amazonense, deu lugar a uma nova realidade.
Os indicadores do Serviço Geológico do Brasil (SGB) apontam que os principais rios do Amazonas estão retomando seus níveis normais para esta época do ano. Nesta terça-feira (6), o Rio Negro atingiu a marca de 21,46 metros, quase o dobro do registro mais baixo em 26 de outubro de 2023, quando chegou a 12,70 metros, segundo dados do Porto de Manaus.
Embora a cheia traga um alívio bem-vindo para a economia local, ainda há desafios a serem enfrentados. Misael Oliveira, marinheiro de 36 anos que trabalha na Marina do Davi, na Zona Oeste de Manaus, relata uma melhoria na situação, mas observa que a movimentação de clientes ainda é tímida.
A reativação dos setores dependentes do Rio Negro, como transporte fluvial e turismo, é evidente. No entanto, novos obstáculos surgem, como o caso do Lago do Puraquequara, na Zona Leste da capital, onde a vegetação que cresceu durante a seca agora cobre as águas, dificultando o acesso.
Além disso, o ressurgimento de problemas ambientais anteriores, como a morte de mais de 200 botos no Lago Tefé, interior do estado, ressalta a fragilidade do ecossistema amazônico. O Instituto Mamirauá continua investigando as causas dessas mortes, mesmo com a normalização da situação.
Jussara Cury, pesquisadora de geociências do SGB, destaca que a pouca quantidade de chuvas durante o El Niño continua afetando os níveis dos rios. Regiões como Tabatinga, no Alto Solimões, e Alto Rio Negro apresentam oscilações e até descidas, enquanto o Rio Branco, em Roraima, está em recessão. Em Boa Vista, capital de Roraima, os níveis também estão abaixo do esperado para o período.
A previsão para os próximos meses ainda é incerta. O SGB analisará as cotas dos rios em março, abril e maio para projetar como os níveis se comportarão este ano, indicando que apesar da atual melhoria, a recuperação completa da região ainda demandará tempo e esforço.
AM POST