IAC recomenda práticas que favorecem a disponibilidade hídrica com melhor resposta em produtividade, longevidade e sustentabilidade.
Na irrigação agrícola, a água deve ser considerada como um insumo que precisa ser manejado com monitoramento do clima, do solo, da planta ou pela associação destes com tecnificação e controle. Por se tratar de um processo dinâmico, que envolve a água no sistema solo-planta-atmosfera, são necessários o monitoramento e os ajustes de estratégias para gestão de acordo com as variações ocorridas no ambiente de produção agrícola, sendo a água aportada por chuva ou por irrigação.
Por exemplo, dentre as diferentes respostas de cultivares de cana-de-açúcar à irrigação está a ocorrência de raízes a 80cm de profundidade, após 35 dias do transplantio de Mudas Pré-Brotadas, como ocorreu com a variedade IACSP95-5094. Esta condição proporciona aumento da água disponível do solo e melhor aproveitamento não somente das irrigações, mas também das precipitações naturais. “Esses e outros resultados atrelados à implementação de estratégias distintas de manejo da água compõem os benefícios que são fruto do monitoramento hídrico e de ajustes necessários”, comenta a pesquisadora e vice-coordenadora do Instituto Agronômico (IAC-Apta), Regina Célia de Matos Pires.
Esse nível de desenvolvimento radicular mostra que a muda tem vigor, boa nutrição e alta capacidade de absorção de água e nutrientes, o que favorece o pegamento no campo, o melhor aproveitamento de água das chuvas e o desenvolvimento inicial da lavoura. Mudas com sistema radicular bem desenvolvido apresentam maior potencial produtivo e contribuem para a formação de canaviais mais homogêneos e duradouros.
A resposta ao uso da irrigação depende de vários fatores, incluindo: objetivo, planejamento, instalação, operação, adequação das práticas culturais, monitoramento, estratégias de manejo, auditoria, avaliação e realinhamento de ações, se necessário. Essa orientação vale para o sistema irrigado na cana-de-açúcar e em outras culturas.
Diferentes modos de monitoramento: controle e entendimento dos fatores do clima
“É preciso avaliar o que está ocorrendo com as plantas – um ciclo longo de temperaturas mais baixas vai impactá-la de diversos modos, positiva ou negativamente”, orienta a pesquisadora do IAC. Assim, o monitoramento do clima é fundamental na tomada de decisão ao longo do ciclo e no entendimento dos resultados.
Outro fator relevante é o monitoramento da água disponível no solo e da profundidade do sistema radicular das plantas. “Isso é muito importante sobretudo quando se realiza a irrigação de salvamento – ao conhecer essa disponibilidade consigo fazer o balanço hídrico e adotar estratégias mais assertivas na irrigação e em especial na modalidade de salvamento da cana, por exemplo”, completa. Regina Pires participou de um painel durante a Feira Internacional da Irrigação 2025, realizada em Campinas, em agosto deste ano, sobre o uso da técnica na canavicultura.
Caracterização da demanda da irrigação em diferentes épocas de plantio e corte da cana
Variedades desenvolvidas pelos programas de melhoramento genético de cana como a IACCTC07-8008, IACSP01-5503 e CTC02-2904 foram avaliadas pela equipe do Instituto Agronômico em condições de sequeiro e irrigadas considerando as temperaturas do ar e das folhas e em cada experimento a resposta dos materiais genéticos se mostrou distinta. Isso reforça a importância do conhecimento da resposta das cultivares de cana em relação aos estresses hídricos e ambientais.
A cientista destaca a relevância de utilizar variedades de cana com porte ereto e elevada eficiência no aproveitamento hídrico — ou seja, capazes de gerar maior produtividade por metro cúbico de água consumido. Em cultivares irrigadas por gotejamento subterrâneo, foram observadas variações nessa eficiência, com resultados entre 15 e 20 kg de colmo por metro cúbico de água aplicado.
Ao simular a demanda de irrigações com dados diários de clima, valor de água disponível no solo e estabelecimento de critério de manejo para as irrigações, é possível estimar qual o valor de lâmina necessária e o número de irrigações, para cada época de plantio e colheita, com análise por vários anos.
Além disso, esse tipo de estudo permite identificar, nos casos em que o sistema de irrigação não é capaz de suprir totalmente a lâmina de água demandada pelas plantas, os períodos específicos em que ocorrerá deficiência hídrica — considerando tanto a época do ano quanto os estágios de desenvolvimento da cultura.
Com essas informações, é possível relacionar os momentos de escassez hídrica aos impactos potenciais sobre o desempenho da lavoura, segundo a pesquisadora do IAC, da Diretoria de Pesquisas dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“Cada parâmetro monitorado aumenta a confiabilidade na tomada de decisão.”
Segundo Regina Célia de Matos Pires, o monitoramento pode ser realizado não apenas com medições clássicas, mas também com as tecnologias atuais, como o uso de imagens obtidas por meio de câmeras, que podem facilitar muito o manejo e a tomada de decisão, em especial em grandes culturas.
A pesquisadora afirma que – na verticalização da produção com irrigação – há grande diferença entre o uso “tecnificado do insumo água e a aplicação artificial deste recurso” no cenário de utilização racional e promoção da eficiência hídrica. Na tecnificação, o monitoramento é fundamental.
Por Carla Gomes (MTb 28156) – Jornalista científica e assessora de comunicação IAC