A presença do mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei) e de colônias de hidrozoas tem se tornado um dos maiores desafios operacionais das usinas hidrelétricas brasileiras. Esses organismos aquáticos, considerados espécies invasoras, causam incrustações severas em tubulações e sistemas de resfriamento, comprometendo o desempenho térmico e elevando os custos de manutenção a níveis milionários.
“Hoje, a luta contra o mexilhão é diária. Não basta limpar, é preciso entender o ciclo biológico e adaptar o sistema. A manutenção virou também uma questão de biologia aplicada”, explica o técnico em manutenção mecânica de usinas hidrelétricas, Cleliton de Lima Dalben.
Uma invasão que começou nos anos 1990
Originário do sudeste asiático, o mexilhão-dourado chegou à América do Sul na década de 1990, trazido na água de lastro de navios cargueiros vindos da Ásia. Rapidamente, se espalhou pelos rios das bacias do Paraná, Paraguai e Uruguai, encontrando nas hidrelétricas brasileiras um ambiente perfeito: água limpa, oxigenada e com temperatura entre 10°C e 30°C.
Essas condições permitem que os moluscos se fixem em qualquer superfície, de tubulações metálicas a válvulas e trocadores de calor, formando colônias densas que reduzem a vazão e provocam bloqueios nos circuitos de resfriamento.
As consequências vão muito além do acúmulo físico. As colônias afetam sensores, válvulas e instrumentos de medição, comprometendo a automação e exigindo intervenções constantes. Em alguns casos, o bloqueio total das linhas de resfriamento chega a causar falhas críticas em mancais e selos mecânicos, com risco de danos permanentes aos equipamentos.
De acordo com Lima, os custos anuais de limpeza e reposição de peças podem alcançar até R$ 5 milhões por usina de grande porte, dependendo da frequência das paradas e da complexidade dos sistemas.
Soluções e estratégias de controle
Para conter o avanço do mexilhão-dourado e das algas hidrozoas, concessionárias de energia têm investido em uma combinação de métodos químicos, físicos e mecânicos. Entre os mais utilizados estão:
- Cloração contínua ou intermitente dos circuitos de resfriamento;
 - Injeção de hidróxido de sódio (NaOH), que altera o pH da água e inibe o crescimento larval;
 - Aplicação de biocidas antifouling para impedir a fixação de organismos nas superfícies metálicas;
 - Filtragem e microfiltragem nas linhas de sucção;
 - Sistemas de luz ultravioleta (UV) e ozonização, testados de forma experimental;
 - Revestimentos internos antiaderentes, que dificultam a formação de colônias.
 
Mesmo com tantos esforços, nenhum método se mostrou totalmente eficaz a longo prazo. Por isso, a manutenção preventiva ainda é considerada a principal ferramenta de controle.
Um dos maiores desafios, segundo Lima, é equilibrar o uso de produtos químicos com a proteção ambiental, já que o emprego de biocidas e cloro é rigidamente controlado por órgãos reguladores. “É preciso garantir a eficiência sem comprometer a qualidade da água e o ecossistema ao redor”, reforça o técnico.
Universidades e centros de pesquisa trabalham em soluções mais sustentáveis, como materiais avançados e sistemas inteligentes de injeção química automatizada. Também estão em desenvolvimento tecnologias de limpeza por pulsos hidráulicos, capazes de remover incrustações sem a necessidade de paradas prolongadas.
Enquanto essas inovações não se consolidam, o trabalho nas usinas segue intenso. “Cada parada representa tempo e energia perdidos. O segredo é antecipar o problema antes que ele cause uma falha crítica”, conclui Cleliton de Lima.

									 
					



