Novembro 13 de 2025, Belém, Brasil – Enquanto líderes mundiais se reúnem no coração da Amazônia para a COP30, grupos da sociedade civil e lideranças indígenas realizaram um protesto pacífico dentro da Conferência do Clima da ONU para denunciar a contínua expansão de projetos de petróleo e gás – uma decisão que mina diretamente as metas climáticas globais e o compromisso com uma transição energética justa.
Com faixas que diziam “Amazônia Livre de Petróleo e Gás”, “Liderança Climática Não se Faz com Petróleo” e “Nosso Futuro Não Está à Venda”, participantes do o Brasil, do Sul Global e de organizações e redes internacionais exigiram avanços concretos na COP30 rumo à eliminação dos combustíveis fósseis e à definição de como deve ocorrer uma transição energética justa e equitativa.
O protesto destacou as contradições gritantes entre promessas e ações climáticas. No Brasil, o governo aprovou recentemente novas perfurações de petróleo próximas à foz do Rio Amazonas – não muito longe de onde ocorrem as negociações –, enquanto sedia a COP30 no coração da maior floresta tropical do planeta. Ao mesmo tempo, países do Norte Global, incluindo Estados Unidos, Canadá, Noruega e Austrália, continuam ampliando a produção de petróleo e gás, apesar de sua responsabilidade histórica pela crise climática.
Ativistas ressaltaram que a “COP da Verdade”, como chamou o presidente Lula, só fará jus a esse nome se suas palavras forem acompanhadas de coragem e ação – com compromissos e prazos concretos para encerrar a expansão dos combustíveis fósseis, proteger a Amazônia e construir uma transição energética verdadeiramente justa, liderada por povos indígenas e comunidades tradicionais.
Os grupos da sociedade civil enfatizaram que a COP30 precisa representar um ponto de virada para a ambição climática, entregando compromissos concretos para eliminar os combustíveis fósseis de forma rápida e equitativa, em linha com a meta de 1,5°C. O acordo final deve incluir uma linguagem forte sobre o fim da dependência dos fósseis e metas claras para triplicar as energias renováveis com financiamento público e justo. Também defenderam que povos indígenas, comunidades da linha de frente e trabalhadores estejam no centro das negociações e tomadas de decisão, garantindo que a transição seja realmente justa, inclusiva e livre da influência dos grandes poluidores.
Contexto
- Em outubro de 2025, o governo brasileiro autorizou perfurações de petróleo próximas à foz do Rio Amazonas, ignorando a exigência de consulta livre, prévia e informada, e provocando forte reação de povos indígenas e comunidades tradicionais de toda a região.
- Esses grupos alertam que os projetos ameaçam modos de vida e ecossistemas locais na Amazônia.
- Países do Norte Global seguem entre os maiores produtores e exportadores de combustíveis fósseis, mesmo com suas emissões históricas desproporcionais e maior capacidade financeira para liderar a transição.
- Enquanto isso, os compromissos de eliminação dos fósseis seguem sendo adiados, colocando em risco a meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
- Como país-sede da COP30, o Brasil enfrenta pressão crescente para liderar pelo exemplo, encerrar a expansão dos combustíveis fósseis e financiar uma transição energética justa para todos.
Comentários:
Jonas Mura, liderança indígena do Amazonas:
“Nesta COP30, os povos da Amazônia estão dentro da Blue Zone para lembrar que não existe transição energética com o avanço do petróleo e do gás sobre nossas terras. Enquanto os governos negociam metas e licenças, nós seguimos lutando pela vida. Para que tenhamos uma COP da verdade, a transição tem que começar com a nossa voz – a Amazônia precisa deixar de ser tratada como zona de sacrifício para se tornar o centro da justiça climática.”
Cacique Ninawa, liderança indígena do Acre, coordenador do FEPHAC e do Instituto Inu:
“Estamos na nossa casa. O Brasil precisa escolher: vai liderar o mundo para o fim dos combustíveis fósseis ou continuar cavando, perfurando e queimando o nosso futuro? Nós, povos indígenas, somos os guardiões da vida. Nossas florestas, nossos rios, nossos mares, nossas terras — não são recursos à venda, são a própria vida. Precisamos de nossos territórios demarcados, de nossos direitos respeitados, de nossas vozes na mesa. Porque enquanto o petróleo continuar a fluir, a justiça não fluirá. Enquanto o planeta queimar, não haverá solução — apenas mais perda, mais silêncio, mais fumaça.”
Aryampa Brighton, advogada artuante em Uganda e líder da equipe da organização Youth for Green Communities:
“De Uganda à Amazônia, nossa mensagem é a mesma: não pode haver transição justa construída sobre o sofrimento das comunidades da linha de frente e a criminalização de ativistas anti-combustíveis fósseis. A contínua expansão do petróleo e do gás não é desenvolvimento — é destruição disfarçada de progresso. A COP30 deve ser o momento em que os líderes parem de falar em ambição enquanto autorizam novos poços. A verdadeira liderança climática significa estar ao lado dos povos cujas terras, rios, sobrevivência, identidade e direitos estão sendo sacrificados pelo lucro — e ter a coragem de finalmente dizer não aos combustíveis fósseis.”
Bianca Barbosa, liderança quilombola do Marajó e gestora de projeto do Observatório do Marajó
“No Marajó a nossa luta também é por uma transição energética justa e a gente não quer a exploração de petróleo na foz seja visto como algo que vai garantir o desenvolvimento do território. O que queremos enquanto juventude marajoara é investimento na educação para que a nossa juventude possa também participar dessa transição energética e possa ter autonomia para criar novas tecnologias e manutenção delas.”
Mariam Kemple Hardy, Diretora Global de Campanhas da Oil Change International, afirmou:
“A transição é movida pelo poder das pessoas e já está em curso em muitas partes do mundo, mas um pequeno grupo de países ricos está desviando o progresso global. Desde a assinatura do Acordo de Paris, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Noruega aumentaram a produção de petróleo e gás em quase 40%, em vez de reduzi-la, e continuam impulsionando a maior parte da expansão planejada de petróleo e gás no mundo até 2035.
“Um futuro justo significa que esses países ricos precisam ser os primeiros a eliminar os combustíveis fósseis, financiar a transição energética no Sul Global em condições justas e parar de colocar o lucro acima das pessoas e do planeta. A Presidência da COP deve usar as negociações climáticas da ONU deste ano para levar os países do compromisso à implementação. Isso significa estabelecer prazos obrigatórios para uma eliminação rápida e justa dos combustíveis fósseis, com liderança política real, políticas de transição justa que apoiem trabalhadores e comunidades, e financiamento sem endividamento para o Sul Global.”




