Com fim do refino local, petróleo é processado em São Paulo, impondo maiores custos logísticos e colocando consumidores do Norte entre os que mais pagam pelo combustível no país
Petroleiros entregam documento a Lula sobre impactos da venda da unidade de refino m
Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2025 – Desde a privatização da Refinaria de Manaus (Ream), em 2022, o preço da gasolina no Amazonas disparou 52,6%, segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Em dezembro de 2022, o litro da gasolina ao consumidor final custava 4,60 reais; em agosto de 2025, a gasolina chegou a 7,02 reais, mostrando trajetória de alta durante todo o período analisado.
Boletim no Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo e Gás (Ineep) publicado nesta terça-feira, 15, mostra que a Região Norte registrou, em agosto/2025, o maior preço médio da gasolina no país, 6,19 reais por litro, puxado pelos estados do Amazonas e Acre. A média nacional foi de 6,19 reais e o menor valor médio foi observado no Sudeste, 6,05 reais.
A Ream, que em 2022 refinava, em média, mais de 900 mil barris de petróleo por mês, deixou de produzir combustíveis e agora funciona apenas como base logística. Em 2025, a unidade processou petróleo apenas nos meses de março (296 mil barris) e abril ( 114 mil barris), em quantidades irrisórias. “Hoje a Ream, controlada pelo grupo Atem, deixou de processar o petróleo extraído em Urucu (AM). Essa mudança limitou sua operação e transferiu a atividade para São Paulo, encarecendo ainda mais o preço final para os consumidores amazonenses, que já estão entre os que mais pagam pela gasolina e pelo gás de cozinha no país”, destaca Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.
Essas informações constam de documento enviado pela FUP e pelo Sindicato dos Petroleiros do Amazonas (Sindipetro-AM) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denunciando os impactos da privatização da Ream e propondo alternativas para retomar o refino no estado.
O documento foi baseado em estudo elaborado pelo Ineep, apontando que a privatização resultou em redução drástica da atividade de refino; maior dependência da importação de combustíveis; preços abusivos para a população; precarização das condições de trabalho, com demissões em massa; perda bilionária de arrecadação para os cofres públicos; e risco de transformar a Ream em simples terminal de armazenamento.
As entidades sugerem duas medidas ao governo federal: reversão da privatização, reincorporando a refinaria à Petrobrás; ou estabelecimento de parceria operacional com o atual proprietário, para garantir que o petróleo de Urucu volte a ser processado no Amazonas. “Essas ações visam reduzir custos logísticos, reativar empregos qualificados, fortalecer a economia regional e garantir preços mais justos para a população” afirma Bacelar.
O documento defende ainda a inclusão do Amazonas na estratégia nacional de energia, com a Petrobrás retomando papel central no setor de refino e no desenvolvimento econômico e social do país.