Apesar da redução expressiva nos números de homicídios no Brasil, a percepção de insegurança entre os brasileiros segue praticamente inalterada. O país registrou, em 2023, a menor taxa de homicídios dos últimos 11 anos: foram 45.747 mortes, o equivalente a 21,2 casos por 100 mil habitantes. Os dados fazem parte do Atlas da Violência 2025, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ainda assim, a violência permanece entre as principais preocupações nacionais, à frente até de temas como desemprego e inflação.
Para o especialista em segurança pública, Coronel Antonio Branco, essa contradição revela um desafio que vai além das estatísticas. “A queda nos homicídios é um indicador relevante, mas a segurança pública não se resume a isso. O cidadão avalia sua sensação de segurança no cotidiano, no transporte, nas ruas, no bairro, e esses espaços continuam marcados por furtos, assaltos e pela presença do medo”, afirma.
Branco destaca que a insegurança percebida está ligada à visibilidade da violência, e não apenas à sua ocorrência. “Os homicídios são crimes de maior gravidade, mas menos frequentes no cotidiano da maioria das pessoas. Já os pequenos delitos, as ameaças e as situações de vulnerabilidade social estão presentes no dia a dia. É isso que mantém a população em alerta constante”, explica.
Outro fator apontado pelo especialista é o papel das redes sociais e da cobertura midiática. Notícias de crimes são amplamente compartilhadas, muitas vezes sem contextualização, o que amplifica o sentimento de medo. “Hoje, a informação circula em tempo real e com forte apelo emocional. Isso gera a impressão de que o crime está mais perto, mesmo quando os números mostram o contrário”, observa.
Além disso, a desigualdade social e a baixa confiança nas instituições também pesam nessa equação. Quando o cidadão não acredita que a polícia vai resolver um crime ou que a Justiça será eficaz, ele tende a se sentir permanentemente inseguro.
O especialista também reforça a importância de ações comunitárias voltadas para os jovens, como projetos esportivos, culturais e educativos, para reduzir vulnerabilidades e fortalecer vínculos sociais. “O esporte, a música e o teatro são ferramentas poderosas de prevenção. Quando o jovem se sente parte da comunidade e enxerga oportunidades de desenvolvimento, a violência perde espaço. Segurança pública não se faz apenas com policiamento, mas com pertencimento e oportunidades”, defende.
A redução da violência letal é um avanço importante, mas o país ainda precisa investir em políticas de prevenção, policiamento de proximidade e fortalecimento das redes comunitárias. “É preciso que o cidadão sinta, na prática, a presença do Estado e da segurança em seu cotidiano. Só assim a queda nos números vai se refletir, de fato, na percepção das pessoas”, conclui Branco.




