A Globo passou pela primeira grande mudança em seu jornalismo desde que o seu novo diretor responsável, Ricardo Villela, assumiu o cargo em janeiro. Telejornais de TV aberta e da GloboNews, canal de notícias da emissora, estão liberados para citar nomes de facções criminosas em reportagens.
A mudança, silenciosa, foi ordenada em janeiro, mas só começou a ser usada efetivamente na última quarta-feira (14), quando a emissora precisou noticiar a fuga de dois homens que escaparam do presídio de segurança máxima de Mossoró (RN).
No Jornal Nacional e no canal de notícias da Globo, foi citado em materiais sobre o assunto que ambos os homens faziam parte do Comando Vermelho, facção criminosa criada no Rio de Janeiro nos anos 1980, e que disputa território pelo Brasil com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Até então, a Globo não citava os nomes das fações para não ajudar em sua promoção. A regra não era escrita, mas vigorava informalmente em ordens de chefes desde os anos 1980, quando o Comando Vermelho tomou conta do noticiário policial.
Internamente, já existia muito debate na emissora sobre citar ou não as facções e o que isso mudava na percepção do público. Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo até dezembro, era um dos defensores de esconder os nomes das facções.
Kamel lembrava sempre do caso do sequestro do jornalista Guilherme Portanova, repórter que foi capturado pelo PCC em meio a ataques que aconteciam em São Paulo em 2006. Ele só foi liberado após a Globo aceitar exibir um vídeo com queixas de criminosos sobre o sistema prisional.
Ricardo Villela, atual diretor responsável, aplicou um entendimento que já existe em coberturas para a internet, com o prevalecimento da ideia de que não é possível explicar uma guerra entre facções sem mencioná-las.
A reportagem tentou contato com a Globo desde a última quarta-feira (15), mas não houve resposta até a última atualização desta reportagem. Caso a emissora se pronuncie, ela será atualizada.
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