Para o ginecologista e obstetra Mario Eugênio Mallegni a medicina
nunca perdeu a ternura e a empatia. Ele estabelecia relações humanas com as pacientes. Sabia o melhor momento para falar e ouvir. Era o tipo de médico que olhava no olho das pessoas e valorizava o exame clínico.
Atencioso e livre de preconceitos, realizou muitos atendimentos por
caridade. “Ele queria colaborar com os humildes que não tinham acesso a
boa medicina”, afirma a advogada Adriana Torres Mallegni, 54, uma das
filhas.
Paulistano, Mario formou-se em 1955 na Escola Paulista de Medicina.
Tornou-se professor da cadeira de ginecologia da Faculdade de Medicina da
Fundação Lusíada.
Em 57 anos dedicados à medicina, realizou mais de mil partos somente na
Casa de Saúde de Santos, onde foi diretor. Atuou por dezenas de anos no
Hospital Estadual Guilherme Álvaro, em Santos, município em que também
fundou a Unimed. Mário exerceu a profissão até 84 anos de idade.
Amante do mar, de seus navios e aventuras, Mário foi o médico do navio
oceanográfico Prof. W. Besnard, que fez a primeira expedição polar
brasileira. Convidado pela USP, participou de mais três viagens à Antártida a bordo deste navio, o que lhe rendeu o título de cidadão santista.
A embarcação foi batizada como Prof. W. Besnard em homenagem ao
cientista Wladimir Besnard, trazido ao Brasil pela USP para organizar e
dirigir o Instituto Oceanográfico.
Quando passeava ao exterior com a esposa Maria Luíza, adorava fazer
anotações sobre os pontos turísticos visitados. Assim, museus, castelos e as histórias dos locais ganhavam vida em seus diários de viagem.
Mário Eugênio Mallegni (1928-2020) e a esposa Maria Luíza – Arquivo pessoal
Apaixonado por geografia, gostava de perguntar ao neto, seu xará, o nome
das capitais do mundo. Era uma forma de transmitir ao garoto, hoje um
homem que mora em Londres, o gosto pelas viagens.
“Há 20 anos, durante um almoço, ele nos disse que viveríamos uma
pandemia séria porque a medicina não seria capaz de combater o que estava se criando em matéria de vírus e bactérias”, conta Adriana.
Ironicamente, foi uma das vítimas da própria previsão. Mário morreu no dia 19 de dezembro, aos 92 anos, por complicações de Covid-19. Deixa a esposa, três filhos, quatro netos e um bisneto.
FONTE: FOLHA UOL