Plataforma recebe documentário de Hélio Goldsztejn, que lança um novo olhar para uma das criadoras mais inventivas da arte brasileira e estreia na 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Ainda, o catálogo oferece a playlist Ailton Krenak Indica, com as produções favoritas do escritor, ativista e líder indígena, em sinergia com a Ocupação que o homenageia e está em cartaz no IC
Nos dias 29 e 30 (quarta e quinta-feira), a Itaú Cultural Play, plataforma de streaming gratuita do cinema brasileiro, exibe um filme da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, um dos maiores festivais audiovisuais do país e do mundo, que será encerrado no dia 30. Trata-se do documentário Amélia Toledo – Lembrar de não esquecer (2025), no qual Hélio Goldsztejn apresenta um novo olhar sobre a vida e obra da artista paulistana (1926-2017) que marcou a arte brasileira pela sua capacidade de experimentar várias técnicas e de sempre se reinventar em diálogo constante com a natureza.
Um dia depois, 31 (sexta-feira), a IC Play estreia Ailton Krenak Indica, playlistcom 11 filmes selecionados por Ailton, em sinergia com a Ocupação Ailton Krenak, exposição que homenageia o escritor e líder indígena em cartaz no Itaú Cultural até 23 de novembro. A seleção traz desde clássicos, como Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha, e Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade, a tesouros do cinema indígena, como Thuë pihi kuuwi – Uma mulher pensando (2023), dos diretores Yanomami Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami.
O acesso à Itaú Cultural Play é gratuito, disponível em www.itauculturalplay.com.br, nas smart TVs da Samsung, LG, Android TV e Apple TV, nos aplicativos para dispositivos móveis (Android e iOS) e Chromecast. Você também pode encontrar conteúdo da IC Play nas plataformas Claro TV+, SKY+ e Watch Brasil.
Itaú Cultural na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
Em mais um ano de parceria, a Itaú Cultural Play exibe um filme selecionado da 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o documentário Amélia Toledo – Lembrar de não esquecer (São Paulo, 2025), dirigido por Hélio Goldsztejn. Ele traça um retrato sensível e abrangente de uma das artistas mais inventivas da arte brasileira. Ao revisitar sua trajetória, o filme ilumina a pluralidade criativa desta paulistana que transitou entre o design de joias, a escultura, pintura, gravura e instalação, sempre guiada pela curiosidade e pela experimentação de materiais diversos, como acrílico, chapas de metal, pedras e conchas.
Entre depoimentos de amigos, familiares e artistas, a obra percorre as múltiplas fases de uma carreira marcada pela fusão entre arte e vida, revelando a professora e pesquisadora que ajudou a moldar instituições como o Mackenzie, a FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado e a Universidade de Brasília (UnB), onde trabalhou quando a instituição foi inaugurada, em 1962, sob a reitoria do antropólogo Darcy Ribeiro.
O filme reafirma sua relevância contemporânea — uma artista que fez da matéria, da natureza e da forma um campo de descobertas contínuas, sempre fiel ao impulso de se reinventar. Amélia Toledo – Lembrar de não esquecer pode ser assistido na Itaú Cultural Play nos dias 29 e 30 de outubro, após a exibição presencial no festival, em 27 e 28.
Ainda, a Mostra Internacional de Cinema exibiu um filme cujo projeto foi contemplado pelo Rumos Itaú Cultural, programa de apoio à arte do IC: o documentário Aqui não entra luz (2025), de Karol Maia, que investiga a relação entre a senzala e o espaço conhecido como “quarto da empregada”.
Favoritos de Ailton
Em 31 de outubro, por sua vez, a IC Play estreia Ailton Krenak Indica, playlist com 11 filmes brasileiros recomendados pelo escritor e ativista homenageado com uma mostra da série Ocupação em cartaz no Itaú Cultural. Desses títulos, três são novidades no catálogo da plataforma: os premiados Terra em Transe (Rio de Janeiro, 1967), de Glauber Rocha, Sargento Getúlio (São Paulo, 1983), de Hermano Penna, e Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade.
Em Terra em transe, Glauber Rocha conta a história de Paulo Martins, um jornalista e poeta à beira da morte que revisita as contradições políticas e morais de Eldorado, país fictício dilacerado por disputas de poder. Com sua estética barroca, o clássico permanece atual ao traduzir o caos político e a luta por ideais em um Brasil em constante ebulição. Também mergulhado nas contradições do país, Sargento Getúlio traz Lima Duarte no papel de um jagunço que insiste em cumprir sua missão – levar um preso político de Sergipe até a Bahia –, mesmo quando o contexto político já mudou. Inspirado no romance do baiano João Ubaldo Ribeiro, o filme recria com força visual e dramaticidade o sertão como espaço de honra e tragédia.
Macunaíma transforma o clássico de Mário de Andrade, o livro homônimo lançado em 1928, em uma comédia mordaz sobre o “herói de nossa gente”, que, ao mesmo tempo, é um “herói sem nenhum caráter”. Nele, o protagonista, Macunaíma (vivido pelos atores consagrados Grande Otelo e Paulo José), nascido na floresta, decide se aventurar pela cidade grande em busca da muiraquitã, um amuleto perdido. Zombeteiro, Macunaíma foi criado como uma alegoria do povo brasileiro.
Ailton Krenak Indica também conta com produções feitas por realizadores indígenas e/ou que abordam temáticas dos povos originários. Em Thuë pihi kuuwi – Uma mulher pensando (Roraima, 2023), um dos primeiros filmes dirigido e filmado por mulheres Yanomami, vemos a preparação da yãkoana, um pó sagrado, considerada o alimento dos espíritos, observado por uma mulher do povo, que mergulha em uma viagem interior. Exibido em festivais do Brasil e do exterior, como o Festival de Veneza, o filme conquistou o título de Melhor Curta-Metragem Documentário no 23º Prêmio Grande Otelo do Cinema Brasileiro, em 2024.
As hiper mulheres (Pernambuco, 2011), de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, é um dos filmes indígenas mais premiados e conhecidos no Brasil. Nele, o público é conduzido ao coração do Alto Xingu, onde uma anciã faz um último pedido para o seu companheiro: cantar no Jamurikumalu, o maior ritual feminino da região. As mulheres, então, juntam-se para ensaiar a festa, mas a cantora que guarda a memória das antigas músicas está gravemente doente. A obra foi viabilizada pelo Vídeo nas Aldeias, projeto que atua na produção compartilhada de filmes com populações originárias e na formação de cineastas indígenas desde 1986.
O criador do projeto, o diretor franco-brasileiro Vincent Carelli, é um dos diretores, junto a Ernesto de Carvalho e Tatiana Soares de Almeida, do longa-metragem Martírio (Pernambuco, 2016), filme essencial para entender o genocídio indígena no Brasil, que também está na seleção. O documentário retrata o reencontro de Carelli com as populações Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, que, na década de 80, formaram um grande movimento de retomada de suas terras. Passados mais de 20 anos, o cenário violento mostra que o genocídio dessa população não acabou, ao contrário, parece estar cada vez pior.
Dirigido por Dulcídio Gomes, Edna Ximenez, Genito Gomes, John Nara Gomes, Johnathan Gomes, Joilson Brites, Sara Brites e Valmir Gonçalves Cabreira, Ava Yvy Vera – A terra do povo do raio (Mato Grosso do Sul, 2016) também dá voz aos Guarani Kaiowá em sua luta pela retomada das terras ancestrais. O filme parte do depoimento de um indígena sobre as constantes ameaças que seu povo sofreu por parte de pistoleiros da região. Combinando testemunhos e registros do cotidiano, o documentário reafirma a relação entre povo e território.
O território é também tema do curta-metragem documental Língua e território (São Paulo, 2017), do cineasta Claudiney Ferreira. Ele volta o olhar à Aldeia Verde, em Ladainha, Minas Gerais, onde os Maxakali preservam sua cultura por meio da língua. Com falas dos cineastas Isael e Sueli Maxakali, a produção destaca a palavra como fonte de cura, identidade e permanência — uma ponte entre o mundo físico e o espiritual.
Na produção roraimense Mãri hi – A árvore do sonho (2023), as palavras do líder indígena Davi Kopenawa nos conduzem por uma viagem pelo mundo onírico dos Yanomami, povo que acredita que cada ser humano pode ter sua própria experiência dentro dos sonhos. A direção é do reconhecido cineasta Yanomami Morzaniel Ɨramari.
Encerrando as obras de temática indígena, o documentário Krenak (Minas Gerais, 2016), de Rogério Corrêa, mergulha na trajetória do povo Krenak, que resiste há séculos à violência colonial e aos desastres ambientais. O documentário faz um percurso histórico que vai das perseguições do século XIX à tragédia de Mariana, em 2015, dando voz a lideranças indígenas que reafirmam o direito à vida e à terra.
Por fim, Ailton Krenak Indica exibe outro clássico de Glauber Rocha, Deus e o diabo na terra do sol (Rio de Janeiro, 1964). O longa-metragem é um retrato da luta de um vaqueiro contra a miséria e a opressão no sertão. Misturando religiosidade, violência e poesia, o filme se consolidou como um dos maiores marcos do cinema moderno brasileiro, com sua trilha inesquecível de Sérgio Ricardo e a beleza plástica da fotografia que eternizou o sertão como símbolo da resistência popular.
Sinopses dos filmes
Amélia Toledo – Lembrar de não esquecer
De Hélio Goldsztejn (Documentário, 82 min, São Paulo, 2025)
Classificação indicativa: AL – Livre (violência e drogas lícitas)
Sinopse: A vida e a obra de Amelia Toledo, uma das artistas mais inquietas e inovadoras da arte brasileira, ganham novo olhar no documentário. O filme revela a trajetória de uma criadora que transformava a própria casa em ateliê, indo do desenho de joias à escultura e experimentando com materiais tão diversos quanto acrílico, chapas de metal, pedras e conchas.
Terra em transe
De Glauber Rocha (Drama, 108 min, Rio de Janeiro, 1967)
Classificação indicativa: 14 – Violência
Sinopse: À beira da morte, um poeta agoniza e refaz seu percurso à frente das lutas políticas de Eldorado, um país fictício convulsionado por disputas de poder. Num gesto desesperado, ele tenta entender os caminhos que levaram a um golpe de estado promovido por forças cristãs e conservadoras.
Sargento Getúlio
De Hermano Penna (Drama, 90 min, São Paulo, 1983)
Classificação indicativa: A12 – Conteúdo sexual, nudez e violência
Sinopse: Baseado no romance de João Ubaldo Ribeiro, o filme narra a história de Sargento Getúlio, um velho jagunço que precisa cumprir uma missão dada por seu patrão: levar um preso político do Sergipe até a Bahia. Durante a travessia pelo sertão, Sargento Getúlio é avisado de que pode soltar o homem, pois os ventos políticos mudaram. Contrariando a ordem, ele persistirá em sua jornada.
Macunaíma
De Joaquim Pedro de Andrade (Comédia, 108 min, Rio de Janeiro, 1969)
Classificação indicativa: 16 – Conteúdo sexual, nudez e violência
Sinopse: Adaptação de um dos mais famosos romances da literatura brasileira, o filme narra a história de Macunaíma, “herói de nossa gente”. Nascido na mata, Macunaíma vai se aventurar na cidade grande em busca da muiraquitã, um amuleto perdido. Na selva de pedra estranha e hostil, conhece o amor da guerrilheira Ci e enfrenta o vilão milionário Venceslau Pietro Pietra, sequestrador da pedra mágica.
Thuë pihi kuuwi – Uma mulher pensando
De Aida Harika Yanomami, Edmar Tokorino Yanomami e Roseane Yariana Yanomami (Documentário, 9 min, Roraima, 2023)
Classificação indicativa: AL – Livre
Sinopse: Uma mulher Yanomami embarca em uma jornada introspectiva, enquanto observa um xamã preparando a yãkoana, o alimento dos espíritos.
As hiper mulheres
De Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro (Documentário, 79 min, Pernambuco, 2011)
Classificação indicativa: 10 – Conteúdo sexual
Sinopse: Numa comunidade dos indígenas Kuikuro, em Mato Grosso, uma anciã faz um último pedido para o seu companheiro: cantar no Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu. As mulheres se reúnem para ensaiar e para preparar a festa, mas a cantora que guarda a memória das antigas músicas está doente.
Martírio
De Ernesto de Carvalho, Tatiana Soares de Almeida (Tita) e Vincent Carelli (Documentário, 160 min, Pernambuco, 2016)
Classificação indicativa: 12 – Drogas lícitas e violência
Sinopse: Em 1980, Vincent Carelli registrou em vídeo o nascimento da grande marcha de retomada das terras guarani kaiowá, em Mato Grosso do Sul. Vinte anos depois, ele revisita o movimento e escancara o contínuo genocídio dessa população, enquanto governos se sucedem no poder sem abrir os olhos para a situação.
Ava Yvy Vera – A terra do povo do raio
De Dulcídio Gomes, Edna Ximenez, Genito Gomes, John Nara Gomes, Johnathan Gomes, Joilson Brites, Sara Brites e Valmir Gonçalves Cabreira (Documentário, 52 min, Mato Grosso do Sul, 2016)
Classificação indicativa: AL – Livre
Sinopse: Numa estrada cercada por pés de soja que se perdem no horizonte, um indígena guarani kaiowá fala sobre as constantes ameaças que seu povo sofreu por parte de pistoleiros da região. Esse é o ponto de partida para uma reflexão sobre o processo de recuperação de suas terras e de seus costumes ancestrais.
Língua e território
De Claudiney Ferreira (Documentário, 10 min, São Paulo, 2017)
Classificação indicativa: AL – Livre
Sinopse: No Vale do Mucuri, no município de Ladainha, em Minas Gerais, fica a Aldeia Verde, onde vivem indígenas Maxakali, que preservam sua identidade por meio da língua. Essa língua, que é cura, resistência e acesso ao mundo espiritual, dá sentido à existência desse povo. Nomear as coisas é também criá-las.
Mãri hi – A árvore do sonho
De Morzaniel Ɨramari (Documentário, 17 min, Roraima, 2023)
Classificação indicativa: AL – Livre
Sinopse: Para os indígenas Yanomami, todos os seres humanos sonham e cada um pode ter sua própria experiência dentro dos sonhos – os jovens se deparam com os queixadas e as mulheres podem ver a floresta se transformar em outra. Já os homens adultos conseguem ver uma grande chuva cair sobre a floresta. Partindo dessas observações, a
palavra de um grande xamã nos conduz pelo universo do onírico dos Yanomami.
Krenak
De Rogério Corrêa (Documentário, 74 min, Minas Gerais, 2016)
Classificação indicativa: A10 – Temas sensíveis
Sinopse: A história e a luta do povo indígena Krenak pela sobrevivência e pela demarcação de suas terras no interior de Minas Gerais. Da perseguição de Dom João VI no século XIX à tragédia de Mariana, em 2015, o filme percorre o trajeto de resistência dos Krenak diante da campanha genocida do homem branco.
Deus e o diabo na terra do sol
De Glauber Rocha (Drama, 118 min, Rio de Janeiro, 1964)
Classificação indicativa: 14 – Violência
Sinopse: No sertão nordestino, um vaqueiro miserável mata o patrão. Ele foge com a mulher e é acolhido por um beato negro, de quem se torna um seguidor. Insatisfeita, a elite local contrata um matador para dar cabo do santo e dos seus fiéis. O casal sobrevive e, na caatinga, se encontra com o bando do cangaceiro Corisco.




