Após cinco dias de debates e trocas de saberes, a Semana da Sociobiodiversidade reuniu em Brasília (DF), entre os dias 1º e 5 de setembro, mais de 450 lideranças indígenas, extrativistas, quilombolas, pescadores artesanais, ribeirinhos, trabalhadores rurais, organizações da sociedade civil e representantes do poder público. O encontro resultou na apresentação da Carta da Semana da Sociobiodiversidade 2025, entregue nesta sexta-feira (5), Dia da Amazônia, a representantes do Governo Federal.
O documento reúne propostas para fortalecer as economias da sociobiodiversidade, que movimentam bilhões de reais por ano no Brasil, mas ainda enfrentam invisibilidade histórica, baixa repartição de benefícios, racismo ambiental e falta de políticas públicas estruturantes. Segundo dados do Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), em 2023, os produtos da sociobiodiversidade geraram R$ 17,4 bilhões e criaram 525 mil postos de trabalho. Além disso, o setor protegeu 60 milhões de hectares, o que demonstra sua contribuição direta para a preservação ambiental.
“Essas economias são fundamentais para a soberania alimentar, geração de emprego e conservação da biodiversidade, mas continuam marginalizadas frente ao avanço da chamada Economia da Destruição — baseada em desmatamento, garimpo, mineração e especulação fundiária”, destaca um trecho do documento.
A Carta (https://cnsbrasil.org/carta-da-semana-da-sociobiodiversidade/) apresenta propostas em diferentes eixos, como: Segurança socioterritorial e salvaguardas: proteção de lideranças ambientais, fortalecimento do combate a crimes organizados e ambientais nos territórios tradicionais; Políticas públicas: infraestrutura para transporte, armazenamento e logística; fortalecimento da pesca artesanal, costeira e continental; incentivos para acesso justo aos mercados; Juventude e gênero: criação de políticas específicas para jovens e mulheres de povos e comunidades tradicionais; Mudanças climáticas e COP30: garantia de participação das comunidades nas negociações climáticas em Belém (PA), em 2025; entre outros.
Mobilização e incidência
Durante a semana, também ocorreram a Pré-COP dos Oceanos, o III Encontro Nacional das Juventudes de Povos e Comunidades Tradicionais, a 14ª Reunião do Coletivo do Pirarucu, além de reuniões do Coletivo da Borracha e do Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA).
A programação incluiu ainda uma sessão solene em homenagem ao Dia da Amazônia, na Câmara dos Deputados, em Brasília, com a presença da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, e uma marcha na Esplanada dos Ministérios, que levou às ruas de Brasília denúncias sobre os impactos das atividades predatórias nos biomas brasileiros.
Para o secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Dione Torquato, a Semana foi estratégica. “Reunir todas essas lideranças em Brasília foi extremamente importante para unificar nosso diálogo e levar às instâncias nacionais as demandas dos povos da sociobiodiversidade, especialmente diante da proximidade da COP30”, afirmou.
Realização
A segunda edição da Semana da Sociobiodiversidade é uma iniciativa coordenada pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros e Marinhos (CONFREM), com apoio do Memorial Chico Mendes (MCM), Observatório das Economias da Sociobiodiversidade (ÓSocioBio), Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA), Operação Amazônia Nativa (OPAN), Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), World Wildlife Fund Brasil (WWF), Instituto Clima e Sociedade (iCS), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto Socioambiental (ISA), Coletivo do Pirarucu, Coletivo da Castanha, Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), Fundação Moore, Instituto Juruá, Gosto da Amazônia, Wildlife Conservation Society (WCS), Aliança Águas Amazônidas, Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA), Rainforest, Conexsus, Michelin Brasil, Amazon Investor Coalition, GIZ Brasil, Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, entre outros.
Créditos: Agência Miracena