Apenas nos dois primeiros meses de 2021, mais de mil mulheres já foram vítimas de violência doméstica em todo o Amazonas, segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM). As vítimas dizem ser ameaçadas após serem violentadas. Em Manaus, projetos de apoio ajudam mulheres que passaram por um relacionamento abusivo.
De acordo com os dados da SSP-AM, entre janeiro e fevereiro de 2021, foram 1.023 registros de violência doméstica sofridas por mulheres em Manaus. No interior do estado, foram 73 casos registrados durante o período.
Entre os registros de estupro no estado, já foram 44 casos em Manaus e três no interior. Os dados apontam ainda que dois casos de feminicídio aconteceram no Amazonas entre os dois primeiros meses do ano.
Uma vítima de agressões, que preferiu não se identificar, contou que sofreu a primeira agressão após tentar por fim ao relacionamento de um ano e 6 meses.
”Ele dizia que se eu não ficasse com ele, eu não ia ficar com mais ninguém. Eu não denunciei por medo porque ele me ameaçava. Por medo, eu acabei voltando. Ele pediu perdão, falou que não ia mais tocar a mão em mim. Acabou que não aconteceu nada disso né, aconteceu pior”, disse.
Após ter sofrido a agressão, o homem passou a ameaçar a mulher em mensagens de texto. Em uma das mensagens, o homem diz “Te mando pro inferno se me prejudicar”. A vítima fala “Vc quem tá procurando” e ele responde “Vc vai pro interno”.
Três meses depois, os comportamentos agressivos do homem continuaram e a mulher contou que foi vítima de tentativa de feminicídio por ele.
”Quando eu me recordei, eu já tava sendo socorrida pela ambulância pra ir pro pronto socorro. Aí de lá eu falei não, dessa vez eu vou ter que denunciar. Isso não vai ficar impune, ele não pode mais fazer isso com mulher nenhuma e com ninguém”, contou a vítima.
Projetos de apoio a vítimas
Após a tentativa de feminicídio, a vítima disse ter conhecido o “Projeto Fênix”, que existe desde 2018 e ajudam mulheres vítimas de relacionamentos abusivos com orientação jurídica, emocional e até com abrigo.
De acordo com dados do “Projeto Fênix”, de janeiro de 2020, até março deste ano, foram atendidas cerca de 500 mulheres vítimas de agressões.
“O ‘Fênix’ surgiu porque eu fui vítima de um relacionamento abusivo. Que era violência psicológica do meu ex-companheiro. Eu consegui sair do relacionamento e outras pessoas começaram a me pedir ajuda”, disse a fundadora do projeto, Jaqueline Suriadakis.
O “Ressignificando Vidas” é outro projeto desenvolvido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AM) em parceria com a Defensoria Pública do Estado. O projeto tem o intuito de inserção de vítimas de violência doméstica no mercado de trabalho.
“Em muitos dos casos a mulher não consegue romper o ciclo, por ter não ter independência financeira. então a independência financeira na prática significa o rompimento do ciclo de agressão”, informou a defensora pública do núcleo de prevenção do direito da mulher, Carol Braz.
Segundo a gerente de recursos humanos de supermercado Fabrícia Souza, o projeto dá a oportunidade para mulheres que passam por qualquer tipo de agressões, para que possam sair do ciclo de violência doméstica.
‘”A partir da primeira agressão elas já tem que procurar ajuda. Eu sei que é difícil porque a gente sente medo, a gente sente vergonha do julgamento das pessoas. Pede socorro do vizinho, de qualquer pessoa, vocês não podem mais ficar caladas”, finalizou a vítima de tentativa de feminicídio que preferiu não se identificar.