O advogado Osvaldo Cardoso deverá tomar posse como diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) nesta segunda-feira, 10, e antecipou prioridades de sua gestão, em entrevista exclusiva à REVISTA CENARIUM, na qual reafirmou o compromisso com as questões identitárias de matriz africana e ancestralidade indígena, independentemente de sua fé. Osvaldo Cardoso é evangélico.
O novo presidente da Manauscult confirmou um dos eventos mais importantes da capital amazonense, o Festival “Sou Manaus”, que vai acontecer nos dias 3, 4 e 5 de setembro, com 12 atrações nacionais, atendendo a um leque de diversidade cultural. Cardoso substitui o advogado Alonso Oliveira, que assumiu o mandato de vereador na Câmara Municipal de Manaus (CMM). À CENARIUM, ele explicou como pretende impulsionar o turismo e a cultura na maior capital da Amazônia. Leia, na íntegra, a entrevista.
REVISTA CENARIUM: O senhor é advogado, ativista cultural e articulador político com mais de dez anos de atuação. Quais serão as suas prioridades nos primeiros 50 dias de gestão?
OSVALDO CARDOSO: Para os próximos 50 dias da Manauscult, nós estamos conversando com o setor. A gente quer aproximar a Manauscult do setor cultural e o antigo presidente pavimentou uma estrada de trabalho, e nós vamos dar a celeridade que a Prefeitura de Manaus quer e o prefeito exige, aproximando a cultura da população. Estamos conversando, já, com alguns setores, para que a gente tenha, já dentro de 15 dias, um esboço do que nós vamos fazer de imediato. Já se avizinha o Festival Folclórico do Amazonas e a gente quer trabalhar isso de maneira profissional, que venha trazer a população de Manaus a curtir como a gente vivia antigamente. No auge, na minha infância, a gente ia pro Festival Folclórico do Amazonas, era uma data que nós esperávamos, e eu quero trazer isso novamente para nossa capital, trazer essas lembranças boas e fazer essa boa convivência da cultura com a população.
RC – O senhor toma posse como novo diretor-presidente da Manauscult na próxima segunda-feira, 10, mas já está em diversas reuniões com artistas e corpo técnico da pasta. Na próxima quarta-feira, dia 12, vai para Brasília. Qual a agenda que vai cumprir na capital federal? Quais os seus objetivos com essa visita?
OC – O prefeito nos deu essa missão honrosa e marcou a data para segunda-feira. Vou a Brasília na quarta-feira, tenho reunião no Ministério da Cultura, no Ministério do Turismo e Agência Nacional do Cinema (Ancine), e tem uma reunião no Congresso, com o presidente da CMO, na Comissão Mista de Orçamento, que é o deputado Celso Sabino (União Brasil), que é para trazer recursos para Manaus. Vamos fazer uma prova, aproximar Manaus com o governo federal, a eleição acabou. O palanque foi desfeito e quem precisa ter total atenção, nesse momento, é a população. Nós não conseguimos fazer uma gestão municipal sem o apoio do governo federal. Isso tem que ficar claro para a população. Manaus é uma cidade de Estado com orçamento de município. Nós precisamos dessa interação com o governo federal e eu estou indo lá pavimentar pontes que o prefeito já iniciou. O prefeito é muito articulado também com o senador Omar Aziz e com a bancada federal. Nós somos amigos do governo federal e precisamos da reciprocidade do governo conosco.
RC – Apesar de todo o potencial turístico, Manaus ainda tem sérias dificuldades de colocar em prática estratégias para desenvolver essa atividade. De que forma planeja fomentar o turismo na capital amazonense?
OC – A gente está com um planejamento muito interessante com relação ao turismo. Nós temos vários adjetivos para ser uma capital pujante em relação ao turismo. Já tem o projeto “Manaus Adventure”, que traz a questão do turismo de aventura com pesca. A gente tem um potencial muito grande para o turismo de pesca esportiva. Eu mesmo sou um pescador de pesca esportiva. A gente tem infraestrutura para que isso possa acontecer e, além do mais, criar nas pessoas do turismo a preparação para que elas tenham aquela sensação que nós temos quando a gente chega em Fortaleza, onde a pessoa da banquinha te trata de uma maneira calorosa, mostrando o que tem, ensinando o manauara a vender Manaus, a vender a cultura, a vender o turismo, porque isso fomenta a economia, e é o que todos nós queremos.
RC – Uma das principais portas de entrada da cidade e rota turística é a Manaus Moderna, que, atualmente, tem um grande problema de infraestrutura. Há planos para discutir, com o Estado e com outros órgãos da Prefeitura de Manaus, a reforma daquela região?
OC – Com certeza, a Manauscult está de portas abertas. Acredito, eu ouvi, não posso te dar, com toda certeza, que o nosso secretário [de Infraestrutura], um excelente secretário, por sinal, o Renato Júnior, já tem trabalhado num projeto para a Manaus Moderna, junto com o Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), e nós, da Manauscult, estamos à disposição para fazer isso a várias mãos, para a cidade de Manaus, porque a população merece esse cartão-postal bonito e atrativo.
RC – Um dos maiores eventos promovidos pela Manauscult é o “Sou Manaus – Passo a Paço”. A Prefeitura de Manaus prevê um investimento de R$ 6 milhões para a realização do festival, neste ano, e há informações sobre a participação de artistas nacionais. Quando vai ser realizado o evento? Quais as novidades para este ano?
OC – Então, vou lhe privilegiar com as datas já fechadas, dias 3, 4 e 5 de setembro. Já estão fechadas as datas, serão 12 atrações. No momento oportuno, o prefeito irá fazer os anúncios dessas atrações; eu lhe garanto que a população vai gostar muito. E, sim, nós vamos fazer um investimento superior a R$ 6 milhões no “Sou Manaus”. Eu sugeri e o prefeito achou muito interessante, mas essa decisão é dele, o nome Sou Manaus – a capital da Amazônia ou a Capital da Floresta. Eu acho que é um nome que, como a gente está no coração da Amazônia, a gente tem que vender isso para fora. Eu quero, com o apoio de todos, o apoio da imprensa, apoio da população, colocar Manaus no cenário e no corredor dos maiores eventos do Brasil.
RC – O “Sou Manaus” é uma oportunidade de fomentar o turismo e a cultura na região do Centro Histórico da cidade, mas há outras zonas além daquela. Quais os projetos que pretende implementar para descentralizar e levar a cultura para as regiões mais distantes do Centro e Zona Sul?
OC – Com certeza, concordo plenamente. Essa questão já é um projeto em andamento, que é o Cultura Itinerante. Nós estamos com planejamento de fortalecer isso na Zona Leste e na Zona Norte. Nós queremos levar a cultura para a periferia de Manaus. A gente consegue visualizar, numa passagem simples, muita gente boa nas periferias de Manaus, essa galera precisa de oportunidade. A gente vai fazer o esquenta do “Sou Manaus” e vamos levar atrações para a Zona Leste, Zona Norte e bombar Manaus em eventos.
RC – A Manauscult tem projetos para artistas de comunidades que desenvolvam projetos sociais nessas comunidades. Há previsão de editais?
OC – Sim, há, inclusive, um edital aberto, que fecha, agora, no dia 30 de abril, que é, justamente, para isso, e a gente vai trazendo recursos para potencializar isso, criar uma cultura na população de Manaus. A gente tem uma história riquíssima, tem um Centro lindo; eu quero trazer a vontade de frequentar o Centro, entendeu? Então, eu já estou agendando uma reunião com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL). A gente precisa do apoio dos particulares com relação a isso, porque senão a gente não consegue fazer isso acontecer. O projeto é bonito, mas chega um momento que a gente tem que tirar isso do papel.
RC – Duas importantes leis entraram em vigor, no País, para fomentar o setor cultural, que são as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2. Só a Lei Paulo Gustavo deve injetar mais de 17 milhões na cultura da cidade. Já há uma interlocução com representantes dos grupos de trabalho para acompanhamento e implementação das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2?
OC – Já sim. Estamos conversando com o Conselho Municipal de Cultura (Concultura) para que a gente possa dar a atenção necessária para isso, facilitar a acessibilidade a esses editais. Eu, pessoalmente, irei participar de todas as reuniões do conselho, para que eu possa entender qual é o anseio da classe cultural e a classe artística da nossa cidade. Então, já há essa interlocução e a gente vai potencializar isso aí. Nós vamos levar a cultura para a periferia.
RC – Você é evangélico e a Prefeitura de Manaus, com a nova gestão, intensificou a presença de artistas gospels nos eventos. Por outro lado, no ano passado, houve críticas de que ocorreu uma dificuldade, da parte da Manauscult, na realização de eventos de religiões de matriz africana. Como será o apoio da Manauscult, com esses eventos, na sua gestão?
OC – Muito obrigado pela oportunidade, estava doido pra falar sobre isso. Sim, eu sou evangélico, mas o nosso Estado é laico. Então, eu recebi, com muita alegria, ontem, o apoio do Balaio de Oxum, formalmente. E nós vamos dar total atenção para os eventos das religiões de matriz africana, desde a festa de Iemanjá. Já conversei, já firmei compromisso com eles. Eu acredito que necessita, e eu acho que o momento do Brasil é esse, unir as pessoas. Acabou essa tensão, acabou a rivalidade, e a gente quer ter todos do nosso lado para que Manaus possa crescer do jeito que precisa e merece.
RC – Quais os projetos culturais voltados para as questões identitárias indígenas? Já há planos para trabalhar com o que os povos originários têm feito?
OC – Essa é uma das pautas importantes da gestão do prefeito David Almeida, a valorização e o reconhecimento das culturas indígenas em Manaus. Um dos projetos de grande significado é o Memorial da Aldeia Indígena de Manaus. Atualmente, desenvolvemos oficinas de formação em diversas comunidades, os preparativos da 3ª Mostra de Arte Indígena e o apoio às entidades indígenas que lutam pelos direitos das populações que vivem em Manaus. Destacamos, ainda, que o Plano Municipal de Cultura prevê uma série de ações a favor dos indígenas, como reconhecimento de suas tradições, o direito à preservação da memória e políticas públicas para melhorar as condições de vida das populações originárias de Manaus. Com a [Lei] Paulo Gustavo, parte dos recursos será destinado a eles.
RC – Quais são as considerações finais que o senhor quer deixar para que a população saiba da sua gestão daqui pra frente, numa importante pasta que é a Manauscult?
OC – Eu quero pedir à população de Manaus que aguardem coisas boas. O prefeito de Manaus, David Almeida, está muito empolgado com esse ano, que eu acho que é um ano de reconstrução, eu acho que é o ano que a gente tem, de fato, sem o fantasma da pandemia para nos assustar. Eu quero acalmar a população, dizer que nós vamos conseguir entregar tudo que eles precisam e merecem, e a Manauscult está de portas abertas à classe cultural e artística. Vamos fazer grandes coisas, juntos, por Manaus.
Fonte: Revista Cenarium