A pesar de muitas vezes serem parecidos, os transtornos mentais atualmente comuns reservam suas peculiaridades e tratamentos específicos, que, se não identificados corretamente, podem levar a uma manutenção do transtorno “escondido” atrás de um diagnóstico incompleto
Foi o caso da atriz Cleo, que abriu o tema numa rede social, revelando que depois de muitos anos tentando entender e tratar de sua saúde mental, descobriu que desde mais nova lida com o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), identificado recentemente.
“A comorbidade do TDAH com sintomas depressivos ou ansiosos é muito comum. Então, muitas vezes a pessoa vai buscar ajuda com casos de depressão e ansiedade e a gente vai ver que, por trás, tem um TDAH não tratado”, conta Dra. Julia Trindade, psiquiatra pós-graduada em Neurociências do Comportamento e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Ela mostra as principais características de cada doença a seguir:
TDAH
O núcleo do TDAH é a questão da desatenção, a dificuldade de planejamento, a impulsividade e a hiperatividade. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento, que acontece antes dos 12 anos de idade. “Nas meninas, é muito comum a desatenção, aquela menina mais quietinha, muitas vezes no ‘mundo da lua’, que não consegue fazer as coisas. E os meninos são aqueles que são chamados de preguiçosos e começam ter sensação de fracasso”, exemplifica Dra. Julia.
A psiquiatra comenta que esses comportamentos e sensações podem gerar tanto depressão, quanto ansiedade.
Depressão
O centro da depressão são os sintomas como tristeza ou perda de prazer, associados com alteração do sono, mudança no apetite e dificuldade de concentração, “que também estão presentes no TDAH”, conta Dra. Julia, ao lembrar que “na depressão, a característica mais importante é a tristeza ou a perda do prazer”.
Ansiedade
“Já na ansiedade, eu vou ter um medo ou uma preocupação”, cita a psquiatra. Ela detalha que esse medo aparece na forma de apreensão de não dar conta, de uma ansiedade de performance. “São aquelas pessoas que têm medo de não conseguirem se apresentar bem, aí ‘dá um branco’. Ou não conseguem se concentrar porque estão muito ansiosas, com a cabeça tão preocupada com o que vai acontecer”.
Diferenças nos tratamentos
“O cuidado com as três questões envolve a psicoterapia”, enfatiza a médica, explicando que no que tange aos medicamentos, aí cada uma tem sua prescrição específica.
No caso do TDAH, a indicação, segundo Dra. Julia, é o uso de estimulantes “que vão ajudar na concentração e no foco”.
“Já nos casos de depressão e ansiedade, usaremos medicamentos antidepressivos”, diz a psiquiatra, ao explicar que o tratamento das questões todas pode ser feito em conjunto a partir do diagnóstico correto e que, geralmente, a depressão é quem aparece primeiro.