Iniciativa leva sistemas fotovoltaicos a comunidades da RDS Uatumã, zera gastos com diesel e fortalece cadeias produtivas sustentáveis
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, localizada a 300 quilômetros de Manaus, o Idesam atua junto às famílias locais em uma experiência emblemática de acesso à energia renovável. A região, criada como medida de compensação pelos impactos da Hidrelétrica de Balbina, ainda enfrenta limitações no fornecimento de energia — com comunidades que dependem de geradores a diesel.
Para mudar essa realidade, o instituto implantou sistemas fotovoltaicos off grid em empreendimentos comunitários, como a movelaria familiar ILC Cavalcante. O uso de energia limpa em movelarias ribeirinhas e marcenarias que produzem móveis, objetos de decoração e utilitários a partir de madeira de manejo florestal tem reduzido emissões, cortado custos operacionais e gerado novas oportunidades de renda para as comunidades locais.
Marcus Biazatti, líder de Produção Sustentável do Idesam, destaca que a redução do consumo de diesel, que pode custar cerca de R$ 9 por litro, tem impacto direto no custo produtivo.
“Como exemplo, temos a redução em 100% do consumo de diesel na movelaria e na usina de óleos da RDS Uatumã e, consequentemente, redução do custo de produção entre 50% e 70%. Além disso, há diminuição da pegada de carbono pela substituição do combustível fóssil”, explica.
Além do financeiro
“Mudou tudo”, conta Elizângela Cavalcante, liderança da comunidade do Caribi, na RDS do Uatumã. Ela e o esposo, Gracilazo Miranda, estão à frente da marcenaria ILC-Uatumã e relatam os impactos positivos que o uso de energia solar trouxe para as atividades da comunidade.
“A gente vivia na dependência de vender e conter despesas para comprar diesel para abastecer o gerador. Era bem complicado, porque gastávamos praticamente R$ 7 mil por mês em óleo diesel. Então isso tinha que sair de algum lugar — e saía justamente do nosso produto. Hoje, com a energia solar, ainda temos algumas despesas, sim, mas bem menores”, conta Elizângela.
Antes, empacotar as peças após as 18h gerava custo adicional pelo uso do gerador, lembra Gracilazo. Outra mudança importante foi a redução do ruído do motor, que ficava próximo à movelaria.
“Tinha o barulho das máquinas e do motor, a gente quase não se ouvia. Agora ficou mais tranquilo e saudável para trabalhar. Essa mudança para as placas trouxe várias contribuições”, comenta.
Destaque em Brasília
Os resultados da movelaria foram apresentados em 1º de outubro, durante o seminário “Usos Produtivos de Energia em Territórios Off Grid”, realizado em Brasília. O encontro foi promovido pelo WWF-Brasil em parceria com o Departamento de Universalização e Políticas Sociais da Secretaria Nacional de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), com a Coordenação de Articulação de Políticas para Comunidades do ICMBio e a Rede Energia e Comunidades, representada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).
Entre as experiências apresentadas, o Idesam apresentou dois exemplos. Em uma delas, o consumo de diesel caiu de 50 litros por semana para zero, com significativa redução no custo produtivo e investimento de R$ 251 mil, beneficiando 12 famílias. Em outra, uma movelaria familiar substituiu 200 litros semanais de diesel por energia solar, reduzindo 65% do custo de produção e beneficiando 14 famílias, com investimento de R$ 245 mil.




