Nesta segunda-feira, um levantamento realizado pela ONG WWF-Brasil apontou um crescimento para 178 no número de botos encontrados mortos nos lagos de Tefé e Coari, localizados no interior do Amazonas. As causas apontadas para essas mortes estão relacionadas à seca dos rios no estado e às altas temperaturas registradas na região.
Os registros, desde o dia 23 de setembro, contabilizam 155 carcaças de botos-cor-de-rosa no Lago Tefé e 23 no município vizinho, conforme relatado pela oceanógrafa Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).
Miriam Marmontel chamou a atenção para a gravidade do cenário, mencionando que é inédito no mundo que o calor e a crise climática estejam levando à morte de mamíferos aquáticos de tal maneira. Ela comparou a situação na Amazônia ao que ocorre no Ártico com morsas e ursos polares.
A Defesa Civil indica que 60 dos 62 municípios do Amazonas estão em estado de emergência devido à seca dos rios, afetando mais de 600 mil pessoas.
Miriam alerta que secas e cheias extremas tendem a se tornar mais frequentes e intensas, prevendo um agravamento na região amazônica, especialmente com a expectativa de um El Niño mais forte no próximo ano.
A perda de aproximadamente 10% da população de botos do Lago Tefé em apenas uma semana é um alerta crucial, considerando que a média de encontro de carcaças era de uma ou duas por mês, como enfatizado por Miriam, uma especialista renomada na área.
A oceanógrafa e sua equipe investigam as razões por trás da diferença na quantidade de espécies mortas. Das 155 carcaças registradas, 84,5% correspondem aos botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e 15,5% aos tucuxis (Sotalia fluviatilis), que geralmente são mais vulneráveis.
Miriam explicou que o sistema respiratório dos botos-cor-de-rosa é mais frágil, e fatores climáticos podem ter influenciado o cenário atual. No dia 28 de setembro, quando houve um registro de 70 mortes e a temperatura da água atingiu quase 40°C na Enseada do Papucu, a qualidade do ar estava péssima devido às intensas queimadas e a umidade estava em 50%, enquanto geralmente varia entre 80% e 90% para este período do ano.
O cenário emergencial requer não apenas ações imediatas de proteção ambiental, mas também um olhar mais atento e ações efetivas para mitigar as mudanças climáticas que têm devastado a região, afetando não apenas a vida dos botos, mas também a vida das comunidades locais.