Número de mortos por causa da repressão militar contra manifestantes ultrapassa marca de 500, diz ONG birmanesa. Grupos rebeldes ameaçam retaliar militares. Manifestações contra golpe de Estado já duram dois meses.
O número de mortos resultantes da repressão militar contra manifestantes em Mianmar ultrapassou a marca de 500, segundo relatou a Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos (AAPP) nesta terça-feira (30/03). O caos nas ruas de Mianmar prevalece desde o início de fevereiro, quando as Forças Armadas tomaram o poder sob alegação de fraude eleitoral.
A AAPP comunicou que ao menos oito civis foram mortos na segunda-feira em Yangon, a maior cidade de Mianmar. Em todo o país, a associação registrou 14 óbitos na segunda-feira. Com isso, a contabilização da AAPP totalizou 510 mortes – ao menos cem somente no último sábado. A associação alertou que o número real deve ser muito maior e que 2.574 pessoas estavam detidas.
A pressão internacional tem aumentado sobre a junta militar acusada de fazer uso de força excessiva contra manifestantes. Os militares birmaneses tomaram o poder num golpe de Estado em 1º de fevereiro. Eles alegaram fraude eleitoral nas eleições legislativas de novembro que deram a vitória à líder da Liga Nacional para a Democracia (LND), Aung San Suu Kyi, antes considerada um ícone democrático, mas que decaiu em infâmia como cúmplice no genocídio da minoria rohingya.
Condenação de comunidade internacional
Na segunda-feira, os Estados Unidos suspenderam um acordo comercial com Mianmar e exigiram a restauração de um governo democrático. O presidente americano, Joe Biden, classificou a repressão militar como “absolutamente intolerável” e “totalmente desnecessário”.
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e a União Europeia impuseram sanções aos generais birmaneses. Organizações internacionais, entre elas as Nações Unidas, continuamente tem condenado a repressão. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma “resposta internacional firme, unida e decisiva”. Até então, porém, a China e a Rússia têm usado o poder de veto para impedir o Conselho de Segurança da ONU de tomar medidas contra Mianmar.
Em comunicado pouco habitual, os principais comandantes militares de EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Itália, Grécia, Dinamarca, Holanda, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia condenaram os acontecimentos de sábado, quando mais de cem manifestantes foram mortos.
“Militares profissionais devem seguir as normas internacionais de conduta e são responsáveis por proteger – não machucar – o povo ao qual servem”, ressaltaram os chefes de Defesa dos 12 países.
Grupos rebeldes ameaçam os militares
Nesta terça-feira, a cidade de Yangon estava repleta de lixo nas ruas. Os ativistas descobriram uma nova maneira de protestar contra o golpe de Estado. Imagens no Twitter mostraram pilhas de lixo nos principais cruzamentos da cidade. Os manifestantes pediram que os moradores deixassem seu lixo como uma forma de desobediência civil.
Autoridades alertaram que tomarão medidas contra aqueles que jogaram lixo nas ruas. No início de março, a junta militar impôs a lei marcial em dois distritos de Yangon para ganhar mais poder em meio a crescentes protestos na cidade.
Três dos grupos rebeldes étnicos de Mianmar emitiram um comunicado conjunto no qual ameaça os militares com retaliação. O Exército de Libertação Nacional Ta’ang, o Exército da Aliança Democrática das Nacionalidades de Mianmar e o Exército Arakan disseram que se junta militar não parar com o derramamento de sangue, eles “cooperariam com os manifestantes e reagiriam”.
A declaração foi feita depois que o Comitê de Greve Geral de Nacionalidades (GSCN), um dos principais grupos organizadores de manifestações, convocou forças de minorias étnicas para ajudar nos protestos.
Desde a independência de Mianmar do Reino Unido em 1948, grupos rebeldes armados têm lutado contra o governo por décadas por mais autonomia.
Fonte: DW