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    Meio Ambiente

    Na Cúpula dos Povos, o prato é político 

    Redação Fatos AMBy Redação Fatos AM11 de novembro de 2025Nenhum comentário11 Mins Read
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    Movimentos sociais servem à mesa agroecologia e resistência, mostrando quealimentar o planeta é também promover justiça climática

    Autora: Tatiana Ferreira Reis 

    A Cúpula dos Povos é o maior evento paralelo à COP30, realizado pelos movimentos sociais e territórios tradicionais em Belém do Pará durante a conferência do clima. Até o dia 16 de novembro, a organização da cúpula vai garantir alimentação agroecológica para cerca de dez mil participantes interessados em trocar experiências e escutar as propostas de povos indígenas, quilombolas agroextrativistas, ribeirinhos, além de ativistas socioambientais do mundo todo, reunidos no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), à beira do rio Guamá. 

    O fornecimento da alimentação está sob responsabilidade de organizações experientes no assunto. Elas atuaram no combate à fome durante a pandemia de Covid-19, nas enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, e em outras situações em que foi necessário mobilizar experiências como as cozinhas solidárias. Entre as várias organizações envolvidas estão o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e o Movimento Camponês Popular (MCP), em parceria com o Restaurante Universitário da UFPA. O cardápio está sendo preparado a partir de insumos produzidos por diversas comunidades da Amazônia e do Brasil. 

    Ayala Ferreira, liderança nacional do MST, explica que garantir comida de qualidade e com origem nos territórios para todos os participantes da Cúpula dos Povos é condição básica para o sucesso da mobilização. “Ao longo do processo de construção da cúpula, ficou claro que a pauta da justiça climática tem que incluir a alimentação porque ela conecta problemas importantes e soluções dos territórios”, explica a liderança. “Além disso, ninguém vai para a marcha, para a luta, para os debates de barriga vazia. Nesta cúpula, a alimentação tem um projeto político inserido. É a grande mensagem que queremos enfatizar”, complementa. 

    Na programação, estão sendo abordadas questões como alimentação e justiça climática, segurança e soberania alimentar e combate aos agrotóxicos. Entre as atividades, será realizada uma grande Feira Popular dos Povos com culinária, comercialização de alimentos agroecológicos e artesanato. No dia 16 de novembro, a Cúpula se despede com um “banquetaço” na Praça da República, no centro de Belém, com objetivo de integrar a cidade ao projeto de partilha e diálogo entre sujeitos e territórios. 

    Para o MST, a agroecologia assumiu uma dimensão central no debate sobre soluções para a fome e para a promoção da justiça climática. “Se a gente impulsiona sistemas integrados de produção e de distribuição de alimentos agroecológicos, aproximação do campo e da cidade, considerando a relação entre o sujeito e a natureza como elemento central e não o lucro, a gente constrói outras sociabilidades”, conclui Ayala. 

    Durante a realização da Cúpula dos Líderes, evento preparatório que antecedeu a COP30, uma polêmica sobre os valores cobrados pelos alimentos na área oficial de negociações ofuscou um fato importante: o lançamento da Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, endossada por 43 países e pela União Europeia. O documento reconhece, pela primeira vez, o combate à fome e à pobreza como eixo estruturante das negociações climáticas internacionais, reforçando a urgência das medidas de adaptação, especialmente aquelas centradas no ser humano – como a proteção social e a adoção de seguros-safra.

    A declaração aponta que “a mudança do clima, a degradação ambiental e a perda da biodiversidade já estão agravando a fome, a pobreza e a insegurança alimentar, comprometendo o acesso à água, piorando os indicadores de saúde e aumentando a mortalidade, aprofundando desigualdades e ameaçando meios de subsistência, com impactos desproporcionais sobre pessoas já pobres ou em situação de vulnerabilidade”. 

    Riscos à segurança e à soberania alimentar 

    Na Amazônia, região muito afetada pelas mudanças climáticas, as consequências são intensas. Muito calor, queimadas, secas prolongadas, rios e igarapés que definham em contraposição às marés desordenadas e tempestades “fora do tempo”, como dizem os amazônidas, quando se referem aos fenômenos que desorientam as previsões meteorológicas regidas pelos conhecimentos tradicionais. 

    Entre os piores efeitos sentidos na região estão os riscos à segurança e à soberania alimentar. O índice médio de segurança alimentar da população brasileira, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do IBGE divulgada em 2025, indica que há acesso pleno e regular à alimentação adequada em 75,8% dos domicílios. No estado do Pará, pouco mais da metade da população dos lares, 55,4%, vive em situação de segurança alimentar, enquanto a insegurança alimentar afeta 44,6% dos domicílios, o índice mais grave entre os estados brasileiros.  

    Nem a produção de açaí, um dos maiores símbolos da cultura alimentar amazônica, escapa dos prejuízos causados pelas mudanças climáticas. O Pará é o maior produtor de açaí do Brasil, responsável por 90% da produção brasileira, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), lançada em 2024. O município de Igarapé-Miri, na região do Baixo Tocantins, ocupa a primeira posição no ranking estadual. Ainda assim, as comunidades agroextrativistas do município temem pelo comprometimento da sua principal fonte de renda, também indispensável para a alimentação das famílias. 

    Benedita Gonçalves, liderança do território Santo Antônio do Trevo do Carapajó, em Igarapé-Miri, conta que o ano de 2024 foi um dos mais desafiadores. “Sentimos impactos severos. Os frutos do açaí não ficavam maduros, só secavam. Vimos até mesmo as copas dos açaizeiros caindo inteiras”, relata. “Mesmo onde não tinha ocorrido queimada, era como se tivesse passado fogo em tudo. Ninguém conseguiu fazer roça. Por isso, nem mandioca tivemos”, acrescenta. 

    O relato da agroextrativista coincide com as informações sobre o clima registradas em 2024. Segundo investigação do Infoamazônia a partir de dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mais da metade dos municípios da região enfrentou seca durante quase todo o ano. O órgão é responsável por emitir os alertas de desastres naturais para todo o país. 

    A educadora Vânia Carvalho também vem testemunhando os impactos das mudanças climáticas nos sistemas alimentares. Ela trabalha no Fundo Dema, organização da sociedade civil que tem foco na justiça climática e socioambiental e apoiou até 2025 mais de quatro mil comunidades quilombolas, agroextrativistas, ribeirinhas e indígenas. “É uma preocupação geral nos territórios que acompanhamos, pois a Amazônia tem culturas alimentares diversificadas e muito valorizadas pela população. Então, a cada ano a gente testemunha mais problemas causados pelas mudanças climáticas”. 

    Dayane Araújo, agroextrativista, pescadora e artesã do território agroextrativista Pirocaba, em Abaetetuba, no Baixo Tocantins, conta que que, além do açaí, muitas espécies da biodiversidade estão sob risco. “O camarão e o peixe mapará eram muito encontrados no território. De uns anos pra cá, estamos pescando com bastante dificuldade. Andiroba, pupunha, cupuaçu e bacaba também estão mais difíceis de coletar”. O território Pirocaba é um dos que desenvolvem projetos com apoio do Fundo Dema. 

    Vânia Araújo observa que os impactos causados pelos efeitos do aquecimento global nos territórios se somam aos problemas gerados pelo avanço dos grandes empreendimentos e das monoculturas, como da soja, potencializando os riscos para a soberania e segurança alimentar das comunidades. “O avanço das corporações sobre os territórios tradicionais também provoca deslocamentos forçados, desagregação das comunidades, além da contaminação da terra e das águas por agrotóxicos”, complementa. Ela lembra que um problema importante, ainda que menos dimensionado, é a interferência da indústria alimentícia sobre as culturas alimentares amazônicas, comprometendo práticas tradicionais. 

    Guardiãs de conhecimentos tradicionais 

    A interferência da indústria alimentícia na alimentação também é preocupação de Auda Piani, ativista, produtora cultural e pesquisadora sobre saberes alimentares amazônicos. Auda é moradora de Icoaraci, distrito de Belém, localizado a 20 quilômetros do centro da cidade, conhecido por abrigar um polo produtor de cerâmica, pela culinária centrada nos peixes e pela diversidade de manifestações culturais. Em 2013 a pesquisadora iniciou o projeto Entre panelas, memórias e sentidos, que soma publicação de livros, produção de documentários, além de vivências formativas voltadas às culturas alimentares. 

    Diante do que tem presenciado nos territórios tradicionais, Auda acredita que só será possível encontrar soluções para a crise climática se for combatida a pressão exercida pelas corporações sobre os territórios amazônicos, responsáveis pela destruição dos quintais produtivos e pela modificação de hábitos alimentares. Nascida no Marajó, ela tem escutado queixas sobre impactos das mudanças climáticas e dos grandes empreendimentos nos manguezais, nos campos alagados e nas águas que banham o arquipélago, resultando na diminuição da diversidade e da disponibilidade de peixes.  

    Auda chegou em Belém na década de 1960, quando a cidade era repleta de quintais que produziam alimentos, plantas medicinais e amenizavam o calor. “Em plena Amazônia, Belém é atualmente uma cidade cheia de edifícios. Crianças desconhecem a origem do que estão comendo por causa do distanciamento da natureza, assim como boa parte da população perdeu contato com a terra, com a produção das árvores frutíferas, como pupunha, cupuaçu, bacuri, além das hortas”, conta a pesquisadora, que faz referência ao crescimento urbano e à especulação imobiliária ocorridos na capital paraense principalmente a partir da década de 1980. 

    Ela avalia que a presença de ultraprocessados por todo o Estado é um problema grave para a região por contribuir para a desarticulação dos sistemas alimentares tradicionais. “Infelizmente a gente encontra mortadela, outros embutidos e ultraprocessados até nos territórios mais distantes, ameaçando as culturas alimentares e as identidades amazônicas, muito ligadas à forma como socializamos e como nos relacionamos com a natureza”, explica. 

    Elas fazem o pirão render quando a farinha é pouca 

    Diante da necessidade de abordar o tema e também por conta da falta de representação nos eventos oficiais da COP30, Auda Piani e um grupo de fazedores de cultura de Icoaraci se uniram para lançar o Circuito Pé Redondo – Icoaraci faz girar a COP30. A programação, realizada durante todo mês de novembro, conta com atividades musicais, teatrais e literárias, venda de artesanatos, exposição fotográfica e de artes visuais, além da mostra culinária do projeto Elas fazem o pirão render quando a farinha é pouca, em que são servidos pratos como vatapá de abóbora, camarão com coco verde e maniçoba (prato tradicional da culinária paraense), em versão preparada com porco moqueado, sem utilização de embutidos. 
     

    O projeto, premiado pela Política Nacional Aldir Blanc na área de cultura alimentar, é inspirado na prática das muitas cozinheiras amazônicas que utilizam saberes tradicionais para “fazer render” os alimentos de forma criativa, combatendo a fome em tempos de escassez. “Reunimos mulheres de diferentes territórios para registrar e compartilhar conhecimentos e incentivar a alimentação saudável, aproveitando os ingredientes disponíveis nos territórios. Cozinhamos juntas e desenvolvemos receitas e produtos que podem gerar renda e segurança alimentar. É uma forma de combater a perda dos saberes tradicionais causados pela indústria alimentícia”, explica Auda.  

    Investigação sobre sistemas alimentares  

    A importância das mulheres enquanto guardiãs da soberania e da segurança alimentar nos territórios tradicionais também é foco do trabalho da pesquisadora venezuelana Ana Felicien. Ela dedicou seu doutorado, realizado no Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (Ineaf), da Universidade Federal do Pará (UFPA), à investigação sobre os sistemas alimentares no quilombo Camiranga, no Nordeste Paraense, e na comunidade afro-venezuela Cuyagua, no Parque Nacional Henri Pittier, unidade de conservação mais antiga da Venezuela.

    O objetivo da pesquisa foi compreender como as práticas alimentares desses territórios são atravessadas pelo crescente avanço do regime alimentar corporativo, conceito central em seu trabalho, que pode ser traduzido como o domínio das corporações sobre todo o ciclo do alimento, da produção, passando pela venda, até o consumo. Nesse processo, o alimento é transformado em mercadoria e ocorre a marginalização dos saberes e práticas tradicionais. Nos territórios que participaram do estudo, a pesquisadora percebeu que o consumo de industrializados tem sido maior nas faixas etárias mais jovens, o que se configura como ameaça à saúde e à transmissão intergeracional dos conhecimentos tradicionais. 

    O estudo também analisou as práticas de produção, distribuição e consumo dos principais cultivos das duas comunidades. Enquanto o território quilombola produz, no Pará, principalmente açaí e mandioca, a comunidade afro-venezuelana tem a banana-da-terra e o cacau como itens mais importantes da sua produção. Mesmo que esses alimentos estejam integrados no mercado, as relações de reciprocidade envolvidas na sua produção e consumo constituem fatores importantes para a soberania alimentar das comunidades. 

    Ana Felicien adverte que “as práticas alimentares dos territórios tradicionais sofrem muita influência desse modo de produção que prioriza a monocultura, a concentração de terras, a grilagem e o uso intensivo de agrotóxicos”. Essas ameaças, tanto históricas quanto contemporâneas, são agravadas pelas perdas e danos causados pelas mudanças climáticas que atingem a produção agroextrativista. Nos dois territórios, explica, foram aplicadas políticas públicas voltadas à alimentação, “mas sua eficácia é limitada, pois não há apoio efetivo para a agricultura familiar e para o agroextrativismo, muito menos políticas de adaptação e perdas e danos para as comunidades tradicionais”. 

    Entre os resultados da pesquisa, Ana destaca a importância do trabalho das mulheres, principalmente cozinheiras e merendeiras, na construção da soberania alimentar como política cotidiana. “Elas acionam saberes tradicionais e ações coletivas para a melhoria da qualidade da alimentação. Assim, articulam redes de fornecimento solidário, por meio de relações de reciprocidade envolvendo trocas, doações e práticas que garantem a implementação das políticas públicas, como a merenda escolar, além da viabilização das festas tradicionais e das economias locais”, conclui. 

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